domingo, 11 de abril de 2010

O ponto

Stella Galvão

Ela tinha ouvido falar vagamente. Era um ponto. Não, uma região, ou melhor, uma sensação ímpar. Uma coisa assim de vagar pelas estrelas, ver constelações, embarcar em cometas. O primeiro namorado nem chegou perto, um bobinho preocupado em apenas descobrir meios de acessar alguma área que, também ele, pouco conhecia. Houve depois aquele universitário empenhado em livrá-la da pecha virginal, o que conseguiu com muita delicadeza e ternura, diga-se. Faltou mesmo a dramaticidade do sangue derramado, o que ela lamentou lá no íntimo, dada que era a excessos. Sentia faltar algo de fisiológico, de primal. Aí ela decidiu ir à luta.

Um cordão de varões se sucedeu nessa onda experimental, naturalmente com todos os cuidados que cercam uma vida sexual menos arriscada. Todos, à exceção de um ou dois de saudosa memória, apenas cumpriram tabela, como se diz, limitando-se às incursões mais detalhadas junto ao terreno anatômico. O ponto permanecia, digamos assim, em aberto. Quando casou, o moço até que tentou prospectar a região, mas pouco sabia de ponto, exceto algumas noções geométricas. Até riu e escarneceu da fantasia dela, alimentada pela leitura na adolescência da descoberta de um médico alemão. O sobrenome dele começava com G, daí o batismo do ponto, que seria o encontro de nervos e muitos vasos irrigados fartamente.

Era lá, nas proximidades do clitóris, ponto de notórias alegrias sexuais, que o ponto, uma vez alcançado, daria em troca uma miríade orgásmica. O casamento durou uma década. Findou não exatamente por obra da não descoberta mas, na sua intimidade expectante, ela não negava que, sim, aquela frustração pesou. Respirou fundo e engatou nova marcha afetiva, até que um dia...

Estava com seu novo amor num desses hoteizinhos baratos do centrão de uma grande cidade, outra fantasia antiga que finalmente via realizar-se, quando repentinamente teve a clara percepção de um espoucar de muitos fogos de artifícios, criando uma atmosfera de arco-íris. A coisa toda durou um tempo improvável em que ela sentiu-se transportar para outra dimensão, tal o estrondo íntimo. Então ele sussurrou-lhe no ouvido: achei seu ponto! Ela o olhou, instantaneamente, apaixonada e feliz. Era um daqueles momentos que se cristalizam lá no mais íntimo do ser pela impossibilidade de replay. Ela pouco se importava se aquela história seria duradoura ou não. Se amanhã se encontrariam ainda sob o frêmito da paixão recente. Às favas com os planos. O que contava era que o ponto chave para acessar aquele tesouro finalmente saíra do terreno ficcional. E era desfrutável, se era!

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