quarta-feira, 30 de junho de 2010

Vereadores de Parnamirim aprovam Viagra grátis para velhinhos

















A Câmara Municipal de Parnamirim, na região metropolitana de Natal (RN), aprovou por unanimidade um projeto de lei para distribuir gratuitamente Viagra para maiores de 60 anos que ganham até dois salários mínimos - R$ 1.020 - por mês.

Para ter direito ao medicamento para disfunção erétil, o idoso deverá ser submetido a avaliação médica. As informações são do jornal Folha de S.Paulo. O projeto foi encaminhado nesta segunda-feira (28)  para sanção do prefeito do município.

Segundo o autor da proposta, o presidente da Câmara, Rosano Taveira (PRB), a ideia surgiu depois que ele foi abordado na rua por um senhor, que lhe pediu dinheiro para comprar Viagra.
Em Novo Santo Antônio (MT), houve projeto semelhante. A Prefeitura criou um programa de distribuição do medicamento em 2006, mas se desconhece o impacto no aumento da atividade sexual entre a população idosa do município.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Juju e o olho digital português


Elnatana Barreto

Aos 22 anos, Juliana, a Juju, era a típica amante de baladas e da vida noturna da cidade. Foi em uma noite agitada que conheceu um empresário português numa boate, que fez de Natal sua válvula de escape, uma localidade litorânea feita para o prazer e o desfrute. Uma cidade atraente, repleta de mulheres interessantes, com tipos físicos diferentes das europeias. Joaquim apaixonou-se por Juju depois de conhecê-la na noite, que se repetiu ao longo de muitas outras. O namoro engatou, mas ele teve que voltar aos negócios em seu país de origem.

Juju, que trabalhava para pagar a faculdade, foi proibida de continuar, pois seu namorado estrangeiro era ciumento o suficiente pra não querer mais vê-la trabalhando e recebendo cantadas de clientes. Assim, se propôs a quitar todo o curso, para que não precisasse mais de trabalhar com essa finalidade. Com o desenrolar do relacionamento dos dois, ela tornou-se mais dependente de seu namorado pois já não mais trabalhava e necessitava de dinheiro para manter um padrão de vida de classe média alta. Ele, conforme ela conta, não se fez de rogado e tratou-se de supri-la financeiramente. Em troca, queria dedicação, fidelidade e que ela estivesse disponível durante as visitas dele.

E assim aconteceu. O empresário bem sucedido vem a Natal uma vez a cada dois meses visitar a namorada, e permanece quinze dias no apartamento que comprou e mobiliou para ela, assegurando também a remessa mensal para cobrir as despesas. Na ausência dele, ela não pode sair de casa (ele afirma que na sua cidade não sai de casa a não ser para trabalhar, e que assim deve suceder com ela) e por isso instalou uma câmera interligada a um sistema informatizado, espécie de big brother com sinal por satélite.

Com a casa da namorada sob vigilância permanente, Joaquim acredita controlar as idas e vindas dela, as razões das ausências curtas (salão de beleza, shopping, faculdade, casa de parentes etc) e assegurar domínio sobre a vida que ela leva à distância, quando o oceano Atlântico se interpõe entre eles. Quando precisa sair, ela avisa o lugar onde irá, em companhia de quem, o tempo que permanecerá fora e outros detalhes exigidos por seu namorado controlador. Juju cochicha, com o olhar esperto de quem aprendeu a ludibriar vigilantes, que virou mestre em encontrar álibis para justificar, sem dramas, suas ausências. Inclusive para namorar. Outros, é claro.

Juju e Joaquim não pretendem casar – ele alega não haver necessidade. Trabalha, ganha dinheiro, permanece com a família portuguesa, e namora quando quer. Ela também não tem do que reclamar. O relacionamento já dura três anos, sem maiores sobressaltos nem atraso no repasse dos valores para assegurar a dedicação de Juju ao seu namorado português. Ela se diz satisfeita: Estuda o que gosta, não precisa trabalhar e tem tudo que materialmente necessita, com liberdade vigiada da qual escapa sempre para “dar uns beijinhos pelos cantos da cidade”.

sábado, 26 de junho de 2010

À base de agulhas


Stella Galvão

Georgina, de tão sofrida infância alimentada por cocos e mangas apenas disponíveis nos quintais vizinhos, tornou-se uma mocinha adorável e saltitante, dona de um traseiro empinado que por pouco não resultou em lordose. Por obra dessa saliência, enlouquecia marmanjos onde quer que estivesse, de tipos sarados com aquele ar blasé de aspirantes a homossexuais, a senhores com ingresso já assegurado na terceira idade.

As amigas tinham que amargar o segundo e o terceiro lugar na preferência masculina, razão pela qual eram confiáveis apenas em situações que não envolvessem o sexo oposto. Georgina não se fazia de rogada e trocava com certa assiduidade de namorado. Bastava o tipo aparecer com uma conversa meio torta, ou usar o penteado ao contrário, ou lançar um olhar lânguido na direção de outras ancas. Era byebye, so long, goodbye

Assim exigente, granjeou fama e tornou-se ainda mais disputada. Naquele momento de vida, ela arrastava as asas na direção de um piloto de uma companhia aérea britânica. Lindo, um arrasa quarteirão, todo amoroso e disponível. O problema é que os vôos para o país tropical passaram a escassear e o romance ficou no ar. Àquela altura, Georgina já sonhava com um amplo e sóbrio apartamento nas proximidades de Crescent Gardens londrinos, oh, glória!

Mas eis que o piloto desapareceu em algum triângulo com ou sem bermudas, estranhamente depois de ter pedido, no que foi prontamente atendido, fotos em posições sensuais. O erro da moça foi ter recorrido a uma amiga alheia a estratagemas de sedução e desatenta aos limites de enquadramento de um instantâneo. As imagens reunidas, como num quadro daquele estranho do  Francis Bacon, sugeriam algum tipo de esquartejamento em vida.

Após o infausto acontecimento, Georgina decidiu dar um tempo para si. Agendou sessões de acupuntura para relaxar, aplacar a dor que lhe consumia as entranhas e também como forma de autoflagelação, ela pensou sobre a idéia de agulhas sendo introduzidas em pontos-chave do corpinho sofrido. A primeira sessão transcorreu calmamente, exceto pelo olhar de peixe morto do doutor em direção à porção que se elevava no lençol branco e imaculado.

Com o progresso das sessões, mais áreas tiveram que curvar-se à sanha terapêutica das microagulhas. Os trajes menores da moça aquela altura eram uma doce recordação do doutor, que a espetava com prazer crescente. E não é que se deu a catarse entre a medicina complementar e os afetos e pulsões? De tanta acupuntura, Georgina agora quase desfalece dia sim, dia não.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Professora propõe sexo a estudantes para compensar agressões do Japão contra a China


Uma atriz pornô japonesa está oferecendo relações sexuais com estudantes chineses para se desculpar pela Segunda Guerra Sino-Japonesa de 1937. Aos 24 anos, Anri Suzuki (na foto ao lado) é doutora em história sino-japonesa, é professora e agora quer transar com seus alunos. Tudo por uma causa histórica. Fazer sexo foi a inusitada maneira que a japonesa encontrou para reparar os danos provocados pela invasão japonesa na China (1937-1945).

Durante sua pesquisa, Anri Suzuki disse ter ficado envergonhada ao descobrir o que seus compatriotas japoneses tinham feito. À imprensa chinesa, Suzuki disse: Nós temos que respeitar as lições da história e, apesar de não poder mudá-la, podemos tentar compensar pelo que foi feito".

"Eu quero compensar as feridas da China com meu corpo e ofereço isso fazendo sexo com estudantes chineses no Japão", acrescentou. Para Suzuki, o sexo com uma profissional da área poderia ser uma compensação simbólica para eles.

* do portal G1

domingo, 13 de junho de 2010

Capital erótico: sabe o que é? você tem?



Catherine Hakim*
Prospect  Abril/2010

Michelle e Barack Obama têm.
Carla Bruni e David Beckham têm. Katie Price, a modelo britânica conhecida como Jordan, fez uma carreira dele. É tão grande a vantagem que o capital erótico pode trazer para o mercado de trabalho –especialmente nos esportes, nas artes, na mídia e na propaganda - que frequentemente supera os títulos e qualificações educacionais. 

Capital erótico é uma expressão que eu cunhei para me referir a uma combinação de atração física e social nebulosa, mas crucial. Propriamente compreendido, o capital erótico é o que os economistas chamam de “ativo pessoal”, pronto para assumir seu lugar ao lado do capital humano, econômico, cultural e social. Entre esses fatores, é igualmente (se não mais) importante para a mobilidade social e o sucesso.


O capital erótico vai além da beleza e inclui o “sex appeal”, o charme e as habilidades sexuais, forma física e vitalidade, competência sexual e habilidades de apresentação, tais como asseamento pessoal, escolhas de roupa e outras artes do adornamento pessoal. A maior parte dos estudos capturam apenas uma faceta do capital erótico: fotografias medem beleza ou “sex appeal”, a psicologia mede a auto-confiança e as habilidades sociais e pesquisas sexuais exploram as capacidades de sedução e número de parceiros. 

As mulheres há muito se saem bem nessas artes: é por isso que tendem a estar mais bem vestidas que os homens nas festas. Elas fazem mais esforço para desenvolver as habilidades de charme, empatia, persuasão e empregam a inteligência emocional e o trabalho emocional. De fato, o elemento final do capital erótico é único das mulheres: gerar crianças. Em algumas culturas, a fertilidade é um elemento essencial do poder erótico da mulher. Apesar de a fertilidade feminina ser menos importante em regiões como o Norte da Europa (onde as famílias são menores), a posição dominante das mulheres neste mercado foi reforçada em recentes décadas por um fenômeno muito lamentado: a sexualização da cultura. 


Desde a revolução da pílula, nos anos 60, as pesquisas mundiais revelam um aumento dramático em atividades sexuais, em números de parceiros e variedades de sexo. Londres hoje abriga uma feira “Erotica” anual, que apresenta a nova diversidade em estilos de vida e gostos sexuais. Pesquisas da Organização Mundial de Saúde mostram que todos os seres humanos veem a atividade sexual como essencial a uma alta qualidade de vida – mas os homens ainda classificam o sexo como mais importante do que as mulheres. De fato, a alta na demanda mundial por atividades sexuais de todos os tipos (inclusive o sexo comercial, o autoerotismo e o entretenimento erótico) tem sido muito mais pronunciada entre homens do que mulheres. O turismo sexual é essencialmente um hobby masculino, enquanto as revistas eróticas para mulheres frequentemente fracassam. 


Isso cria um efeito que deve ser familiar a um economista: as leis de oferta e demanda aumentam o valor do capital erótico das mulheres, particularmente sua beleza, “sex appeal” e competência sexual. Está acontecendo tanto na Escandinávia quanto nos países mediterrâneos, na China e nos EUA. O padrão é confirmado até em países “liberados” sexualmente, tais como França e Finlândia. Os homens têm de duas a dez vezes mais chance de ter casos, comprar pornografia, frequentar clubes de dança erótica e outros entretenimentos eróticos. E as garotas de programa podem ganhar mais que quase todas as outras profissões, apesar do fato de trabalharem menos horas. 


É verdade que, como argumentam as feministas, alguns desses relacionamentos podem ser de exploração. E, até certo grau, a nova vantagem das mulheres é mascarada pela explosão da atividade sexual entre homens e mulheres com menos de 30 anos, que hoje consideram normal terem casos de apenas uma noite. Nessa faixa etária há uma paridade de libido, mas o desequilíbrio volta entre homens com mais de 30 – as pesquisas em torno do globo revelam que as mulheres com mais de 30 gradualmente perdem o interesse nos jogos eróticos. 


Essa é uma refutação implícita das pensadoras feministas (como Sylvia Walby, Mary Evans, Monique Wittig ou, mais recentemente, Kat Banyard) que argumentam que homens e mulheres são “iguais” em seus interesse sexuais, como em tudo o mais. Isso obviamente é não verdade,e, por isso, não deve nos surpreender que algumas mulheres usem o sexo e seu capital erótico para obter o que querem. Acontece tão frequentemente hoje quanto no passado, como ilustrado pela barganha sexual diária descrita pelo livro da terapeuta sexual australiana Bettnia Arndt de 2009 “The Sex Diaries”. 


A sexualização da cultura afeta tanto a vida pública quanto a privada. A beleza, o “sex appeal”, as habilidades sociais e a arte de cuidar da aparência cada vez mais são valorizados em toda parte, ajudando a vender ideias, produtos e políticas. A cultura popular valoriza especialmente o capital erótico feminino: veja simplesmente as bandas de garotos descabelados e de meninas produzidas. Sim, os homens com altos níveis de capital erótico se saem melhor do que os que não têm. Mas são mulheres belas e elegantes que estão nas propagandas para produtos de todos os tipos, desde carros até detergentes – e não homens.

Os benefícios econômicos de ser atraente física e socialmente podem ser substanciais, especialmente em marketing, relações públicas, televisão e tribunais, assim como para atores, cantores e dançarinos. Mas é mais amplo que isso: pessoas que trabalham em setores mais bem pagos da iniciativa privada são mais atraentes do que as nos setores públicos e sem fins lucrativos. Pessoas altas e atraentes têm maior chance de conseguir trabalho em bancos ou em escritórios de advocacia. Para as feias e pequenas, é mais difícil. Pessoas bonitas podem ganhar de 10 a 15% mais do que as medianas, que por sua vez ganham de 10 a 15% mais do que as feias. As altas ganham mais que as baixas; as obesas ganham de 10 a 15% menos que a média.

Análises estatísticas mostram que esse prêmio pela beleza não se deve a diferenças disfarçadas de inteligência, classe social e auto-confiança. Estudos entre advogados revelam que sempre há um prêmio para os atraentes. O prêmio varia de tamanho, mas não se deve à discriminação por parte do empregador. Os mais atraentes podem ganhar 12% a mais que os não atraentes e têm 20% mais de chance de alcançar a sociedade na firma, porque são mais eficazes em atrair os clientes. 
De fato, há uma diferença de 25 pontos percentuais em ganhos médios entre as minorias de pessoas atraentes e não atraentes. Esse impacto pode ser tão grande quanto o vão entre ter um diploma ou não ter qualquer qualificação – apesar de estar bem abaixo da inteligência como determinadora dos resultados da vida. 

O que é intrigante é que isso significa que o capital erótico – se visto como dote econômico- é um ativo especialmente importante para as pessoas com poucas capacidades intelectuais ou qualificações. No Brasil, o investimento em cirurgia cosmética é tido como uma forma inteligente de avançar em uma cultura onde a aparência e a sexualidade contam. No Reino Unido também, uma pesquisa com meninas adolescentes revelou que um quarto delas acham que é mais importante ser bonito do que inteligente. Gostando-se ou não, o capital erótico é hoje um capital humano e financeiro valorizado. 


Catherine Hakim é pesquisadora de sociologia da Escola de economia de Londres.

* Prospect é uma revista mensal britânica de atualidades. 

terça-feira, 8 de junho de 2010

Copacabana e suas ‘garotas’

Bebel, prostituta vivida em 2007 pela atriz Camila Pitanga na novela Paraíso Tropical, de Gilberto Braga

Tadeu Oliveira


Copacabana, princesinha do mar. Lugar que, para muitos, é o berço da alma carioca. Cenário onde todos os dias se festejam com igual ardor os dias ensolarados à beira mar, e as noites no sem-número de bares e boates da ex-capital federal. Nela, muitos vivem como se cada dia de suas vidas fosse um capítulo de novela das oito. Gilberto Braga é quase um Deus nesse lugar. Escreve destinos imperfeitos, sempre com um final feliz na manga.

Há pessoas que vivem como se cada gesto seu tivesse como trilha sonora os enferrujados acordes da velha Bossa Nova, seus decrépitos e retrógrados balbucios de letras dissonantes sobre a realidade que os cerca. Prisioneiros de sua vaidade burguesa. Para cair na realidade, é preciso ter coragem ou permitir que ela seja jogada na cara, sem anestesia. O livro 'Garotas de Programa: Prostituição em Copacabana e Identidade Social', de Maria Dulce Gaspar, é um remédio e tanto para os viciados na futilidade que as grandes mídias lhes jogam na mente.

Fruto de seis anos de uma pesquisa desenvolvida pela autora para sua dissertação de mestrado (apresentada nos idos de 1984), o livro traz um retrato peculiar de uma Copacabana que, raramente, figura nos folhetins das oito da noite. Seu objetivo foi estudar a organização e as representações sociais de uma forma de prostituição praticada por mulheres jovens oriundas da classe média da sociedade carioca. Retratos da área estudada são constantemente revelados no livro:

A zona de ocupação nas proximidades do Copacabana Palace e limitada transversalmente pela avenida Princesa Isabel e pela praça do Lido interessa particularmente a este estudo, pois nela desenvolvi todo o trabalho de campo para sua elaboração. Essa subárea contígua ao tranqüilo e residencial Leme, caracteriza-se por uma grande quantidade de boates ligadas à prostituição Os cartazes e vitrinas de boates divulgam as mais variadas atrações eróticas e os letreiros luminosos dão a essa região um ar próprio bastante feérico, que chama a atenção dos transeuntes. (GASPAR, 1985 p. 17)

Nele, a autora também relata detalhes de seu trabalho de campo:
Em resumo, o trabalho de campo se baseou na observação direta realizada nas boates e nos bares freqüentados pelas garotas, tendo como foco a interação prostituta-cliente, e na realização de entrevistas que foram pouco numerosas e nem sempre tão proveitosas como as conversas informais que presenciei e procurei travar com minhas informantes. (GASPAR, 1985 p. 50)

Uma constatação de Dulce chama atenção para os motivos que levam uma garota a prostituir-se:
Se existem as “vítimas”, há também garotas que resolveram, de forma deliberada, se dedicar à prostituição por não estarem satisfeitas com o padrão de vida que poderiam ter através da profissão que exerciam. Devido aos seus dotes físicos, principal exigência na prostituição, essas mulheres podiam obter rendimento muito superior do que na antiga ocupação. (GASPAR, 1985 p. 94)

Como embasamento teórico de suporte para a elaboração do trabalho, vários autores e obras são citados no livro. A autora faz uma análise da literatura sobre a prostituição na França, nos Estados Unidos e no Brasil. A questão da sexualidade é realçada. Destaque para uma citação de Michel Foucault em seu livro Herculine Barbin: o diário de um hermafrodita:

(...) é no sexo que devemos procurar as verdades mais secretas e profundas do indivíduo; (...) é nele que se pode melhor descobrir o que fosse necessário esconder as coisas do sexo porque eram vergonhosas, sabemos agora que é o próprio sexo que esconde as partes mais secretas do indivíduo: a estrutura de suas fantasias, as raízes de seu eu, as formas de sua relação com o real No fundo do sexo, está a verdade. (FOCAULT, 1978: 4).

O livro de Maria Dulce representou uma importante contribuição para a Antropologia Urbana e para o estudo das temáticas sobre os chamados ‘desvios da sexualidade’ e a construção social de identidades neste terreno peculiar. Veio enriquecer ainda mais os estudos sobre o universo de mulheres que povoam o imaginário masculino e dele tiram proveito monetário. Ele revela questões essenciais sobre a sexualidade no universo das camadas médias urbanas, além de contribuir para ampliar nosso olhar sobre o microcosmo gigante representado por Copacabana em particular e o Rio de Janeiro em geral. Uma cidade que se revela muito além do que a televisão é capaz de mostrar.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Bendita nudez


Stella Galvão

Era uma vez uma jovem freira, bela e vistosa. Ela havia feito seus votos de devoção desde novinha, aparentemente sem pressão familiar. Assim, ela envergou o hábito cinza com a gravidade de uma Joana D’Arc a caminho da fogueira, crente e convicta. E falando em fogo, ocorria desta alma pura ser consumida por pensamentos não exatamente castos. Donzela que havia sobrevivido às investidas de um sem número de moçoilos encantados com suas formas opulentas, ela reagia àquelas vontades com banhos demorados. Também consumia potes de doce de leite, o que a deixava mortificada. Se por um lado aplacava uma ânsia devoradora, de outro atiçava o pecado da gula.

Assim aflita, decidiu consultar uma psicóloga para desabafar. Contou com miudeza de detalhes como era acossada por labaredas em sua intimidade, tremendo de vontade de amar. Mas o que ela queria, e persistia nisso, era amar unicamente a Deus. Algumas sessões se passaram até que, na véspera de embarcar para uma temporada de preparação espiritual em solo Vaticano, ela foi surpreendida pela súbita abertura da porta do consultório onde se consultava.

Foi quando surgiu um homem quase nu, parcialmente coberto, todo respingado de tinta, do cabelo à unha do dedo mindinho. Numa das mãos, uma penca de livros, noutra, o rolo de tinta ainda fresca e pingando, espalhando o rosa no trajeto. Era o psiquiatra que ocupava a sala vizinha, naquele dia encarnando um dublê de pintor.
A freira pulou da poltrona e pôs-se a gritar, hipno¬tizada pela visão do masculino ali, a poucos metros dela, e quase sem roupa. A cor da cueca causava mesmo uma ilusão de ótica. Estaria ele nu? A psicóloga teve uma crise de riso. E o psiquiatra ali, pasmo, sem entender nada. Depois da eternidade de um minuto, ele finalmente conseguiu se explicar. Dito isso, e após as desculpas de praxe, correu de volta para sua sala.

Aquele corpo ali teria sido produto da imaginação fértil da jovem freira, justamente curiosa pela visão de um homem despido? A entrada em cena do urologista de cueca foi um achado terapêutico. O tema da sexualidade reprimida da freira voltou ao lugar central do processo. Depois de contemplar um homem em roupas de baixo, ela repensaria a necessidade de um encontro com outro ser, carnal? Ou se aferraria aos seus votos castos?

Com questões assim no ar, ela embarcou para o Velho Continente, onde permaneceu por vários meses. De volta à psicoterapia para retomar o tema, dessa vez com uma abertura surpreendente. Falava agora, às claras, do que lhe provocava a visão de homens que a atraíam. Chegou mesmo a cogitar assumir sua sexualidade, dissimulando essa opção para as superioras e colegas de claustro. Só a deteve a crença no Deus onipresente, que tudo vê, do qual nada escapa. Mas, em longas permanências na capela Sistina, diante de uma série de anjos despidos graciosamente por Michelangelo, ocorreu a essa vocação ainda incipiente para as coisas da alma que o nu é mesmo belo. Que feio era o psiquiatra, assim tão banal, tão palpável, tão real.