segunda-feira, 28 de junho de 2010

Juju e o olho digital português


Elnatana Barreto

Aos 22 anos, Juliana, a Juju, era a típica amante de baladas e da vida noturna da cidade. Foi em uma noite agitada que conheceu um empresário português numa boate, que fez de Natal sua válvula de escape, uma localidade litorânea feita para o prazer e o desfrute. Uma cidade atraente, repleta de mulheres interessantes, com tipos físicos diferentes das europeias. Joaquim apaixonou-se por Juju depois de conhecê-la na noite, que se repetiu ao longo de muitas outras. O namoro engatou, mas ele teve que voltar aos negócios em seu país de origem.

Juju, que trabalhava para pagar a faculdade, foi proibida de continuar, pois seu namorado estrangeiro era ciumento o suficiente pra não querer mais vê-la trabalhando e recebendo cantadas de clientes. Assim, se propôs a quitar todo o curso, para que não precisasse mais de trabalhar com essa finalidade. Com o desenrolar do relacionamento dos dois, ela tornou-se mais dependente de seu namorado pois já não mais trabalhava e necessitava de dinheiro para manter um padrão de vida de classe média alta. Ele, conforme ela conta, não se fez de rogado e tratou-se de supri-la financeiramente. Em troca, queria dedicação, fidelidade e que ela estivesse disponível durante as visitas dele.

E assim aconteceu. O empresário bem sucedido vem a Natal uma vez a cada dois meses visitar a namorada, e permanece quinze dias no apartamento que comprou e mobiliou para ela, assegurando também a remessa mensal para cobrir as despesas. Na ausência dele, ela não pode sair de casa (ele afirma que na sua cidade não sai de casa a não ser para trabalhar, e que assim deve suceder com ela) e por isso instalou uma câmera interligada a um sistema informatizado, espécie de big brother com sinal por satélite.

Com a casa da namorada sob vigilância permanente, Joaquim acredita controlar as idas e vindas dela, as razões das ausências curtas (salão de beleza, shopping, faculdade, casa de parentes etc) e assegurar domínio sobre a vida que ela leva à distância, quando o oceano Atlântico se interpõe entre eles. Quando precisa sair, ela avisa o lugar onde irá, em companhia de quem, o tempo que permanecerá fora e outros detalhes exigidos por seu namorado controlador. Juju cochicha, com o olhar esperto de quem aprendeu a ludibriar vigilantes, que virou mestre em encontrar álibis para justificar, sem dramas, suas ausências. Inclusive para namorar. Outros, é claro.

Juju e Joaquim não pretendem casar – ele alega não haver necessidade. Trabalha, ganha dinheiro, permanece com a família portuguesa, e namora quando quer. Ela também não tem do que reclamar. O relacionamento já dura três anos, sem maiores sobressaltos nem atraso no repasse dos valores para assegurar a dedicação de Juju ao seu namorado português. Ela se diz satisfeita: Estuda o que gosta, não precisa trabalhar e tem tudo que materialmente necessita, com liberdade vigiada da qual escapa sempre para “dar uns beijinhos pelos cantos da cidade”.

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