quinta-feira, 29 de julho de 2010

CQC condenado por chamar atriz pornô de "prostituta"


O programa "CQC", da Band, foi condenado pela Justiça a indenizar a atriz pornô Pamela Butt (foto) em R$ 102 mil, após ter sido chamada de "prostituta" pelo apresentador Marcelo Tas, e de "puta" por Rafinha Bastos, que divide a bancada com Tas e Marco Luque. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o caso aconteceu em 2009, depois que Pamela participou do quadro "Palavras Cruzadas", em 2009, em que respondia perguntas também feitas a um padre.
Durante comentários feitos pelos apresentadores do "CQC", Tas disse: "Eu vou convocar a presença de um padre e de uma prostituta. (...) Eu falei errado, vocês vão me desculpar. É um padre e uma atriz pornô". Bastos continuou: "A pessoa ganha dinheiro pra filmar. Não, não é puta, imagina, imagina...".
A produtora argentina Eyeworks - Cuatro Cabezas, responsável pelo formato do programa, defendeu as declarações dos apresentadores, afirmando que "moralmente falando, tanto prostitutas quanto atrizes pornôs obtêm seus proventos por meio do mercado do sexo", o que poderia justificar o equívoco. Porém, o juiz responsável pelo caso classificou como "uma desfaçatez enorme" as alegações da produtora. A Eyeworks também foi condenada a pagar multa no valor de R$ 51 mil.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O refúgio prazeroso do europeu na SBPC

Pablo Capistrano, Stella Galvão e Maria da Paz
Cartilha distribuída pela ASPRORN
Stella Galvão

Uma mesa redonda realizada na manhã do dia 28 de julho, durante o congresso da SBPC, teve o projeto de pesquisa “Natal, refúgio prazeroso do europeu” como tema de debate ocorrido nas dependências da UFRN. Falou-se durante mais de uma hora sobre os desdobramentos do turismo sexual em termos de ligações afetivas e arranjos de vida em comum que surgem na noite de Natal. Participaram Maria da Paz, presidente da ASPRORN (Associação dos e das Profissionais de Sexo do Rio Grande do Norte) e Pablo Capistrano, professor de filosofia do IFRN, a convite da coordenadora da pesquisa, Stella Galvão, professora de Comunicação da Universidade Potiguar.
Debateram o assunto com Francisco de Paula, diretor do curso de Publicidade e Propaganda da UnP e Gustavo Bittencourt, diretor adjunto do curso de Design Gráfico da UnP. Os alunos Elnatana Barreto, de Publicidade, e Tadeu de Oliveira, de Jornalismo, bolsistas da pesquisa, também contribuíram por meio de relatos das garotas que têm entrevistado na vida noturna da cidade.

Na visão de Capistrano, criou-se uma autêntica xenofobia [aversão e medo diante do diferente, do que é desconhecido] da população de classe média da capital potiguar aos redutos de prostituição em Ponta Negra. “Aquilo era um balneário de Natal. Com a chegada dos estrangeiros, começou a aparecer moças de periferia, vendedores, começou a haver uma movimentação comercial que atraía pessoas de diferentes cantos da cidade. E parece haver uma conexão clara entre essa xenofobia e a entrada de pessoas de baixo poder aquisitivo em espaços físicos que antes eram fechados a eles. E aquelas eram as nossas mulheres. E sabíamos onde encontrá-las. Eu ia lá, usava como queria e depois voltava para o meu espaço.”

Além da perda do balneário que até a década de 1980 era pouco habitado e quase inacessível para a população sem carro, o filósofo toca em outro ponto delicado: a necessária convivência dos mais abonados, que freqüentam restaurantes e shoppings, com as acompanhantes dos turistas. “Agora, elas também vão ao badalado restaurante Camarões e topam com as senhoras de Petropólis que ficam chocadas porque só as imaginava entrando ali para limpar o chão. É ter que engolir que aquela garota está comendo o mesmo prato que a dama de classe média alta”. São questões sociais e culturais que contribuem para convulsionar e dificultar o convívio entre estes mundos. Como um apartheid consentido de parte a parte.

Para Maria da Paz, o turista europeu que vem em busca de serviços sexuais é muito bem vindo por três razões principais: porque faz circular mais dinheiro no mercado, porque trata as garotas com mais delicadeza e educação que os brasileiros e ainda se dispõe a bancá-las no longo prazo. Ela contou a história da amiga que se mantém na ponte aérea Brasil-Europa tendo um italiano por provedor e um gigolô natalense por amante. “As mulheres são beneficiadas, sem dúvida alguma, principalmente aquelas que trabalham de forma autônoma, sem se vincular a um cafetão”.

Ela defendeu que o turismo sexual resulte em alguma modalidade de contribuição simbólica, regular, a ser proposta e regulamentada, para se formar um fundo que dê apoio para mulheres em situações frágeis na relação sexual, principalmente crianças e adolescentes ou mulheres não alfabetizadas. De Paula aplaudiu a ideia, mas Castriciano insistiu na regulamentação da profissão de prostituta como meio de assegurar direitos consagrados para outras categorias profissionais. O tema será retomado oportunamente neste espaço.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um amor tardio e as 'putas tristes'


“No ano que completei noventa anos, quis presentear-me com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem”. E é assim, sem rodeios, que o escritor colombiano Gabriel García Márquez nos apresenta a história do velho jornalista que escolhe o sexo para provar a si mesmo que está vivo. 'Memória de Minhas Putas Tristes', lançado em 2005 (editora Record), desfia as lembranças de vida de um solitário personagem que viveu quase um século de uma vida morna, escrevendo crônicas e resenhas maçantes para um jornal provinciano, dando aulas de gramática para alunos desinteressados e, acima de tudo, perambulando de bordel em bordel, dormindo com muitas prostitutas, até chegar, enfim, a uma inesperada história de amor.
As memórias de um escritor que se apaixona pela primeira vez aos noventa anos de idade. Presente de aniversário encomendado a uma dona de bordel, uma adolescente virgem irá despertar o amor do velho cronista do El Diário de La Paz. A paixão lhe garante sair da posição de colunista medíocre e antiquado para a de escritor da primeira página que emociona a todos os leitores que aguardam ansiosos por suas colunas dominicais.
Das lembranças do autor desfilam seus antigos casos, todas as mulheres com quem se envolveu sem paixão e suas visitas à garota que ele próprio não sabia (e nem queria saber) o nome: bastava-lhe o apelido, Delgadina, posto por ele mesmo. Aos treze anos e virgem, ela se torna uma fonte de paixão e ternura para o ancião. Com ela não mantinha relações sexuais, surge um amor casto, feito de contemplação e cuidados. Quando chegava ao bordel onde vivia a menina, se encantava em vê-la dormir e sonhar e pela manhã deixava dinheiro para que a cafetina cuidasse bem de sua amada.
Um assassinato no quintal do bordel numa madrugada separa os dois amantes. Ele não pode voltar, ela teve que sumir. O desencontro provoca todos os variados sentimentos doentios que o amor distante pode trazer. Ciúmes, preocupação, aflição, dor de adolescente. Durante um ano sente toda a intensidade da vida lhe atravessar e pode por fim esperar pela morte satisfeito de amar alguém.
Trechos de “Memória de minhas putas tristes” de Gabriel García Márquez.

"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza dos meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com sorriso maligno, você vai ver."

"Os linotipistas desacertaram com uma cafeteira elétrica igual às três de meus aniversários anteriores. Os tipógrafos me deram de presente uma autorização para apanhar um gato angorá no depósito municipal. A gerência me deu uma bonificação simbólica. As secretárias me deram três cuecas de seda com marcas de beijos estampados e um cartãozinho em que se ofereciam para apagá-los. Na hora, pensei que um dos encantos da velhice são as provocações que as amigas jovens se permitem, achando que a gente está fora do jogo."

"Graças a ela enfrentei pela primeira vez meu ser natural enquanto transcorriam meus noventa anos. Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri, enfim, que o amor não é um estado de alma e sim um signo no zodíaco."

"Atropelei : O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança."

Fonte:  Adaptado do site http://boaleitura.multiply.com/

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A clientela da mulher do taxista



Stella Galvão

Marilda era experientada nos temas da noite. Depois de trabalhar por quase uma década atrás do balcão de um bar concorrido, ela colecionava histórias do arco da velha. Garotas e estrangeiros iam e vinham, no ritmo daquela vida fervilhante, e ela gritava o nome de uns e corria a paparicar outra ou outro. Entre um brinde e outro, num dia de folga daquela lida perfeita para insones, ela apontou o motorista de táxi cafetão. Todos os dias, invariavelmente, ele encerrava o expediente no volante e passava em casa para o embarque da sua mulher, toda produzida e perfumada. O destino era uma das áreas de prostituição mais ativas da cidade. Lá, enquanto ela saracoteava entre as mesas, toda rebolante e dadivosa, ele dedicava-se a animadas partidas de pif paf com outros colegas de ofício. De taxista ou de cafetão? De ambos, é claro.

Na hora que pintava um cliente, Zé, o taxista, era sempre o escolhido para levar o casal. Na direção, podia até mesmo exercitar seu lado voyeur, dando uma espiada no casal que se agarrava e já iniciava a dança toda no banco de trás. Com o tempo aquilo nem mais despertava interesse. Desembarcava sua senhora e acompanhante no motel e aguardava, entre um cochilo e o outro, dentro do estabelecimento. Eram até três corridas por noite.

Se sentia ciúmes? Isso era besteira de gente metida, ele explicava. O que importava eram as bocas para alimentar, o dinheiro livre pra ganhar as praias no domingo - folga de ambos -, o passeio no shopping, uma ida anual a um parque aquático, cigarros especiais para ele, uma lavanda francesa para ela, as visitas a churrascarias, os dois grupos de forró que o casal assistia onde quer que se apresentassem. Realmente, não  havia como bancar tudo com os caraminguás reunidos com as corridas pela cidade, com os turistas disputados quase no grito com os ônibus fretados, bugueiros e toda sorte de entrões, reclamava Zé.

Quanto a ela, de nome Silmara, bastava garantir sua cota de perfumes, cremes e penduricalhos, acessórios cuidadosamente organizados por cor e disposição para a noite. Quando usava os vermelhos ou rosa, a festa prometia. Ela adorava se emperiquitar toda e era mesmo conhecida pelo barulho das muitas pulseiras, dos dedos lotados de aneis extravangantes, do jogar da cabeleira. Sim, porque despesa grande era mesmo no salão de beleza, com aquela loucura de fazer a unha dia sim, dia não. E mais mega hair, sandalinha nova todo mês, calça de marca e academia de 30 reais/mês. O casal brigava só na hora da partilha. Ele sempre queria avançar na 'féria' dela na noite, extraindo mais que os 40% ditados pelo mercado. Era uma rinha de galos, com ela esbravejando que também fazia ele faturar, levando-a para cá, o motel, e para lá, os botecos, a rua, o árduo esforço de existir e produzir.

Mas, quando despontavam os raios do sol a brindar mais um dia, o casal cansado avançava em direção à casa. Cambaleantes, trôpegos, mas afinal bem casados, como comentava a vizinhança. Dormiam juntinhos, entre juras de amor e novo acerto para mais uma noite daquelas. Afinal, estavam às vésperas do início da alta temporada de turistas, garantia de faturamento alto, líquido e certo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Em filme, Bruna Surfistinha chega em 2011

Saiu o trailer do filme "Bruna Surfistinha". A garota de programa mais famosa da internet e dos relatos autobiográficos, vivida pela atriz Debora Secco, deve chegar em breve às telas do cinema em todo o país. A novidade foi contada nesta terça, dia 20 de julho, por Deborah via Twitter. A produção começou há mais de três anos, mas as filmagens aconteceram entre setembro e outubro de 2009. Segundo o portal vejaonline, o filme tem estreia prevista para fevereiro de 2011. Rachel Pacheco - nome real de Bruna - participou das filmagens, mas não vai aparecer na edição final.

No vídeo, a cafetina Larissa, interpretada por Drica Moraes, informa à novata Bruna: "Bom, o esquema é simples: cada programa, uma hora, 100 reais, 40 seu, 60 da casa. Ok?". Uma assustada menina, a futura Surfistinha, responde: "Ok". Ao final do vídeo de 1 minuto, uma confiante e produzida prostituta, com vestido sexy e cheio de brilho, está às gargalhadas. Deborah mostra um pouco de nudez nesse vídeo - mas há nudez total no filme, que os produtores torcem para que leve classificação entre 14 e 16 anos. O roteiro foi escrito a seis mãos, com direção de Marcus Baldini, sem experiência anterior no cinema, só em filmes publicitários e videoclipe.

O filme que conta a história da ex-garota de programa que ficou conhecida como "Bruna Surfistinha", é uma adaptação para as telas do livro 'O Doce Veneno do Escorpião', escrito pela própria Rachel. Publicado em 2005, vendeu mais de 200 mil cópias. No cinema, a produção, a cargo da TV Zero, conseguiu aval do Ministério da Cultura para captação de RS$ 4 milhões por meio de renúncia fiscal.

Trechos do livro “O que aprendi com Bruna Surfistinha”, de Raquel Pacheco, lançado em 2006:

“Como não queria morrer fazendo programa, por mais que estivesse ganhando bem, precisava colocar uma meta. A minha era parar de me prostituir. Isso me levou a outro ponto: quanto ganhar e em quanto tempo?” (pág. 45)

“O que me vicia na prostituição, ao menos como garota de programa com agenda cheia, é o dinheiro que entra todos os dias. Basta querer trabalhar. Tudo bem que, em alguns casos, mudar de vida vira um pesadelo ainda maior. Imagina ter de sustentar família e ganhar 600 reais por mês numa loja de shopping – quando isso você conseguia em uma tarde de trabalho.” (pág. 62)

“Eu tinha preconceito com a prostituição até sentir na pele o que é ser uma. Tive de aprender que a vida de uma garota de programa não é tão fácil quanto parece ser.” (pág. 75)
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domingo, 18 de julho de 2010

Governo espanhol mira classificados de prostituição

Do blog pelomundo*

O Congresso espanhol está debatendo os anúncios da prostituição, desde que o governo retomou sua posição contrária à publicação de classificados de acompanhantes nos jornais. “Os anúncios de prostituição devem ser eliminados”, disse o presidente José Luis Rodríguez Zapatero. “Enquanto existirem, estarão contribuindo para essa atividade.”

Ele lembrou que o governo busca caminhos legais para impedir essa propaganda, medida apoiada por diversos partidos. Mas não detalhou que restrições poderiam ser impostas. Um estudo usado pelos congressistas estima em 40 milhões de euros anuais o faturamento da imprensa espanhola com esses classificados.

A inquietação do governo já havia se manifestado antes, ainda que não de maneira tão enfática. Há dois meses, também no Congresso, a ministra da Igualdade, Bibiana Aído, disse se havia tentado primeiro o caminho da autorregulação, “porque foi assim que se fez nos demais países europeus nos quais a imprensa séria não tem anúncios de acompanhantes”.

Alguns jornais espanhóis deixaram de publicar esses classificados por conta própria. Não foi esse o caso, porém, de nenhum dos três diários de maior circulação do país: “El País”, “El Mundo” e “ABC”. No ano passado, a defensora dos leitores (cargo equivalente ao de ombudsman) do jornal “El País”, Milagros Pérez Oliva, escreveu: “Esta defensora considera que esses anúncios não deveriam ser publicados neste diário. Sei que se trata de uma polêmica muito velha e que os tempos de crise que vivemos não são propícios para tomar uma decisão dessa natureza. Mas (...) é melhor dar o exemplo, como fizemos outras vezes, do que agir por obrigação”.

Quem frequentemente sai em defesa da posição da imprensa é o diretor do diário “El Mundo”, Pedro J. Ramírez. “Nós não somos a polícia”, diz ele sobre a tentativa de relacionar os jornais à existência de máfias que exploram a prostituição. “Caso se investigue e se demonstre a existência dessas tramas, elas desaparecerão, assim como seus anúncios.”

* Blog da Folha S.Paulo/15 julho/2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Relatos de alcova de uma prostituta de luxo

Conrado Carlos*

O relógio marcava 6h30 de uma quarta-feira, quando Cláudia acordou. Disposta, apesar de ter dormido apenas quatro horas, tomou café e foi caminhar na praia. Ao retornar, foi malhar em uma academia do bairro acompanhada de um personal trainer. Cláudia é loira, tem 1,60m de altura e 52 quilos, um corpo que atrai olhares. O cuidado com o corpo é essencial para sua profissão. Mesmo com 25 anos, sabe que o tempo castiga a beleza. Às dez horas, tinha o primeiro cliente do dia. Caprichou na produção: Como garota de programa de alto nível, a exigência do mercado é grande.

Ao cobrar quatrocentos reais por uma hora e meia de prazer, doa não só a carne, mas toda uma simbologia em torno da parceira ideal em uma alcova – solícita, higiênica e devassa. A rotina luxuriante prosseguiria em uma nova seção marcada para 13h10. “É o horário do cara casado, que marca com antecedência no hora do almoço”. A clientela inclui políticos e empresários, gente bem conhecida na cidade de Natal. Os quase três anos de experiência ensinaram-na a detectar perigo. A conversa por telefone é a primeira forma de triagem, uma etapa que clientes assíduos já venceram. Sair com estrangeiros está fora de questão por uma questão prática. Segundo Cláudia, eles se apaixonam facilmente.

Aos dezessete anos arriscou a sorte do outro lado do Atlântico, em Castelldefels, na Espanha, onde foi dançarina de boate e depois saiu para casar com um espanhol. Foram cinco anos de turbulências que aumentaram após a separação. Ele a largou, com duas crianças, para viver com outra mulher. No retorno a Natal, entrou para o mercado da prostituição de luxo e se acostumou com um determinado padrão de vida. Ela fatura entre R$ 15 mil e R$ 20 mil por mês. Em período de alta, chega a tirar uns R$ 28 mil. No primeiro ano, torrava tudo com o dinheiro que chegava rápido. Gastava tudo em shoppings com roupas, jóias, bolsas, sapatos. Agora, esperta, poupa para montar o próprio negócio no futuro.

Com segundo grau incompleto, nem pensou duas vezes em trocar a rotina de ‘ralar o mês toda para ganhar um salário mínimo’ pela cama alheia. Seu palio 2009 foi presente de um empresário local. Elas e as colegas de ofício, como relata, atuam também como mãe, amiga e psicóloga, oferecendo mais que o ombro amigo para longas conversas e desabafos. Entre opiniões sobre a dificuldade de homens e mulheres se encontrarem na intimidade, especialmente os casados, ela conta que viveu uma história com um deus grego, lindo, que poderia ter qualquer mulher que quisesse. Mas assim que entramos no quarto, ele disse que o papel seria invertido. Sessenta por cento dos homens que a procuram são gays, segundo sua própria estatística. Tudo bem, ela topa tudo. Ou quase isso. Afinal, segundo afirma, o incomum é o que seduz no sexo – mas tudo tem um preço, para transar com mais de uma pessoa cobra R$ 700,00, e se o fôlego do cliente permitir, R$ 1 mil garante uma noite de fornicação. “Mas não consigo fazer mais de quatro vezes por dia”.

É claro que toda história de prazer e luxúria tem seu lado B, como admite a garota de programa. Homem armado, violento e agressivo, por exemplo, não é incomum. Sem relacionamento afetivo desde a separação, há mais de três anos, confessa carência, sobretudo quando é tratada com desprezo. Cláudia conclui revelando planos para o médio prazo. Planeja abrir um salão de beleza e uma academia de ginástica. Quer estudar, mas confessa que, quando parar, vai sentir falta da vida de puta de luxo.

* Repórter especial do Jornal de Hoje – adaptado do texto publicado em 20/maio/2010.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Arqueólogos estudam práticas sexuais de povos pré-colombianos



BBC Brasil

Um grupo de arqueólogos mexicanos publicou uma série de ensaios sobre os costumes sexuais das civilizações pré-colombianas do México e da América Central, revelando segredos que permaneceram ocultos por quase 500 anos. Os documentos apontam práticas que escandalizaram os espanhóis que chegaram à região no século XVI.
O conceito de sexualidade dos habitantes originais das Américas era muito diferente do europeu, que tinha uma visão moral e religiosa sobre o tema. Nas culturas mesoamericanas (como eram conhecidas as civilizações indígenas da região que vai do centro do México à América Central), o sexo era um elemento de ordem social, explica Enrique Vale, editor da revista ‘Arqueologia Mexicana’, que publicou os ensaios: "A sexualidade ia além da função reprodutiva, era vista como uma maneira de assegurar a marcha do mundo."

Salão secreto
Durante centenas de anos, as práticas sexuais das civilizações mesoamericanas foram praticamente ocultadas, e mesmo na época moderna o tema foi abordado sob um ponto de vista moral. Em 1926, por exemplo, o antropólogo Ramón Mena reuniu uma mostra de esculturas fálicas e outros objetos das civilizações pré-colombianas que faziam referência à sexualidade.
A coleção, no entanto, nunca foi aberta ao público e permaneceu escondida durante várias décadas em um salão secreto do antigo Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México. Muitas peças tiveram sua legitimidade confirmada e foram distribuídas depois em mostras das diferentes culturas pré-colombianas.

Rito de passagem
Os ensaios publicados na revista ‘Arqueologia Mexicana’ revelam, por exemplo, que a homossexualidade era uma prática comum na civilização maia. Este era um elemento a mais na formação dos jovens, explicam os antropólogos Stephen Houston e Karl Taube no ensaio ‘A sexualidade entre os antigos maias’. "As relações entre pessoas do mesmo sexo eram próprias do tempo dos ritos de passagem, em que um menino se transformava em um homem", explicam.
A homossexualidade está presente em quase todas as culturas pré-colombianas, mas foi abordada de maneiras diferentes pelas diferentes civilizações. Por exemplo, entre os astecas, que dominavam a região central do que é hoje o México, as relações entre pessoas do mesmo sexo não eram bem vistas. Este elemento se refletia também nas divindades pré-colombianas, muitas das quais tinham, em maior ou menor escala, aspectos femininos e masculinos, explica o historiador Guilhem Olivier em seu ensaio ‘Entre o pecado nefando e a integração. A homossexualidade no México antigo’.

Masturbação ritual
Em algumas culturas, a masturbação era um tema vinculado à fertilização da terra.
Os maias, como outras civilizações mesoamericanas, praticavam a masturbação como uma maneira de fecundar a terra, que em algumas civilizações era considerada um símbolo feminino.
"Há indícios de que os maias tinham objetos sexuais de madeira, usados como consolos e descritos pudicamente em um relatório arqueológico como uma efígie fálica", afirmam. A atitude frente à masturbação é uma das práticas que torna mais evidente a diferença entre as culturas pré-colombiana e espanhola, diz Vela.
Há ainda outro elemento: em algumas culturas mesoamericanas, o erotismo não era um elemento central na sexualidade, mas era visto como uma forma de ordenar o planeta, que tem um lado feminino e um lado masculino, assim como existia o em cima e o embaixo.

Fogo e sal contra os adúlteros
Em termos gerais, as transgressões sexuais eram castigadas com severidade nas culturas mesoamericanas. O adultério, por exemplo, era castigado com a morte em algumas civilizações, e em outras, como a dos astecas, permitia ao marido traído arrancar a mordidas o nariz dos adúlteros.
Os purepechas tinham outro castigo: no caso dos adúlteros terem assassinado o marido, o amante era queimado vivo enquanto água com sal era jogada sobre ele até sua morte. O adultério era castigado por uma forte razão: em algumas culturas, acreditava-se que a prática causava desequilíbrio para a comunidade e o cosmos, destacam Miriam López e Jaime Echeverría em seu ensaio ‘Transgressões sexuais no México antigo’.
A presença do transgressor provocava desgraças, como a perda de colheitas ou a morte de crianças, e em alguns casos chegava-se a acreditar que ela poderia provocar o fim de uma época. Como exemplo, eles citam que o líder asteca Moctezuma destruiu um local de prostituição, porque acreditava que as transgressões públicas das prostitutas teriam feito com que os deuses permitissem que os espanhóis chegassem e impusessem seu domínio.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Libélula em vôo rasante


Stella Galvão


A repórter deu uma olhada na pauta daquele dia e não pôde evitar um largo e silencioso sorriso. Moleza. Consistia em encontrar-se com o homem que havia galgado múltiplos degraus desde a sua existência banal numa cidadezinha do interior brasileiro. Ela deveria aproveitar-se daquela ascensão quase meteórica, embalada sabe-se lá por quantas concessões. O homem, inclusive, havia escapado ao pântano em que soçobraram vários, para depois retornar, limpinhos e cinicamente recuperados do enlameamento.

Ela já era tida na empresa em que atuava como a jóia da coroa em meio a outros articuladores bem arrumados. Afinal, nenhum deles tinha aquele par de pernas. Então caprichou no conjuntinho bem justo, estratégico para realçar um traseiro bem fornido. O decote em Y, quase um V maiúsculo, faria o político ceder mais um pouco em favor dos interesses da multinacional que ela representava com galhardia. Foi anunciada com pompa para o encontro a portas lacradas. Ficaram ali, absortos, a bela e a fera, enquanto as senhas eram transferidas de uma memória para outra. Quando fez a última pergunta já descambando para o plano pessoal: o sr. é feliz no poder?, ele cochichou-lhe algo ao ouvido. Ela refez o sorriso e deixou o recinto toda bamboleante, ele com as pernas bambas.

Dali para o ninho de amor foi um pulo. Eles se encontravam em tardes de recesso, madrugadas de acordos de lideranças, noites de votações prolongadas. Só uma amiga e a terapeuta partilhavam dessa sua nova fase outonal. O homem era feio que doía, já caminhando para a terceira idade, mas aparecia com uns ternos bem cortados e gravatas impecáveis. O calcanhar de aquiles dela: gravatas de boa procedência, mesmo que decorassem o peito de um irmão gêmeo do Quasímodo, corcunda imortalizado por Victor Hugo. Ela até poderia ser confundida com a Esmeralda original do romance, toda voluptuosa, mas havia um porém. Ao contrário dessa heroína, ela não circulava entre despossuídos.

Era o tipo de moça que não se contentava com meia dúzia de carinhos ou meros rompantes de desejo. Mas ele não deixava por menos, e sussurrava Neruda aos ouvidos dela: "Áspero amor, violeta coroada de espinhos, cipoal entre tantas paixões eriçado (...)". Mas, como nem só de gravatas e belas palavras se nutre um amor assim, arrebatador, havia também presentes às dezenas, bons jantares, vinhos maturados em barris no Velho Continente, lingeries, perfumes e outros quetais. A coisa caminhou entre desfalecimentos mútuos até que ele se deu conta que o matrimônio, celebrado com interesses vários além do ‘sim’ de sua senhora, estava por um fio. Melhor refazer o pulo para o lado de cá da cerca. Não faltariam festinhas com acompanhantes jovens, bem sadias e ávidas por brindes de empresas sólidas e construtivas.

Quando se viu sem acesso aos bastidores, ela decidiu encarnar uma libélula em vôo rasante. Com ar cândido e faceiro, fez saber a meia dúzia de interlocutores de sua excelência que sua boca produzia mais que sensações – poderia alcançar altos decibéis, relatando porquices ocultas sob o véu da imagem impoluta do senador. Ele, mimosamente, por meio de um intermediário, fez saber à moça que ela corria sério risco de prostrar-se para sempre na horizontal. Uma ameaça explícita, sem véus. A pobrezinha, temendo evoluir para a condição de presunto fresco, calou-se. Poupou o amante, mas não os ouvidos alheios. Conseguiu uma boquinha em programa de TV de segunda linha, onde passa do fogão às lingeries, delas aos dramas alheios, com uma desenvoltura que só vendo, agora encerrada dentro de uma câmera escura, filmada quase até as vísceras.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Eduardo e Mônica

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Francisco Daudt*

MANUEL PERGUNTA ao amigo: "Ó Joaquim, tua mulher transa contigo, é pur amore, ou é pur interesse?" Joaquim responde: "Deve ser pur amore, pois que ela não mostra o menor interesse".
Quando amigos souberam que eu ia escrever sobre zonas erógenas, me disseram que o tema era batido. Eles têm razão. "Só não contavam com a minha astúcia", para citar o Chapolin da TV, por quem tenho admiração.

Quero falar sobre o que acontece na vida dos casais, principalmente depois dos filhos. Sobretudo uma transformação que se passa na mulher, origem frequente das depressões pós-parto. É comum que, ao lhes nascer o primeiro neném, caia-lhes na cabeça uma supraidentidade que as deixa tontas: "Eu não sou mais a Mônica, eu sou uma Mãe".

A Mônica era uma garota sapeca, gostava do esporte, tanto que ela e o Eduardo viveram uma paixão do tipo "bicho pega", até que se casaram e engravidaram.  Três meses de enjoo. Ela não queria nem olhar para o Eduardo, quanto mais para o tal "bicho". Ainda mais que o obstetra havia dito para maneirarem -pois era um tempo delicado-, jogando o casal mais para segundo plano.

É aí que entram as tais zonas erógenas. Quem esperou as batidas áreas anatômicas ficará aliviado. No filme 'Sex Education', os filhos pré-adolescentes de Ed Harris contratam uma prostituta para aprender truques de enlouquecer uma mulher.   O filme tem um final feliz, com o pai se encantando pela moça, e os filhos questionando: "Existe um ponto na mulher que, se tocado, ela é levada à loucura?". E Melanie Griffith responde: "Sim, existe". E aponta o coração.

Eros é uma das formas de amor que os gregos descreveram, tomando o nome de um deus ("Graças a ele, os homens conheciam as alegrias da amizade, as doçuras da ternura, os prazeres e as dores que acompanham o amor verdadeiro", "Nova Mitologia Clássica", Mario Meunier/ 1976). Portanto, zonas erógenas, geradoras de Eros, são áreas mentais de produção de amor.

Quem salvará Mônica do peso da maternidade? Quem lhe ensinará que a moleca não morreu? Quem dirá que existe transa com notas mais ternas, talvez mais acolhedoras para a fase de fragilidade? Que ela não virou intocável com a nova condição? Que escola ensinará ao obstetra que ele não é o proprietário da gestante, que não deve olhar para o marido como um intruso e que Eduardo é mais importante do que ele? E que, se houver realmente razão médica que impeça a transa, existe sempre o chamego, e o chamego dá prazer ao coração.

* Da Folha S.Paulo,6/jul/10

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um mimoso universo carioca


Tadeu Oliveira


A prostituição na cidade maravilhosa é um universo particular. Diversos trabalhos acadêmicos são realizados tendo como pano de fundo a cidade do Rio de Janeiro. A beleza da cidade e seu clima urbano tenso são ingredientes para que núcleos de trabalhadores do sexo proliferem em escala abundante. As zonas de prostituição são uma realidade no Rio, e frequentemente, estes espaços são alvos de ricos estudos antropológicos.

É dentro deste contexto que se insere o artigo científico Sexo para quase todos: prostituição feminina na Vila Mimosa, de Eliane Pasini. Fruto de uma pesquisa realizada na antiga zona de prostituição da Vila Mimosa na capital fluminense, de 2002 a 2005, o texto procura desvendar o local que, além de servir de ponto para consumo de sexo, reunia também núcleos comerciais e residenciais.

As relações sociais entre trabalhadores do sexo, donos de estabelecimentos comerciais e os clientes estrangeiros conferem à região um clima de efervescência constante. A tensão reinante é revelada pela autora: “Parece mesmo que a Vila é constituída pelo excesso: excesso de barulho, de cheiros, de pessoas, de carros, de voz em volume alto, de gestos. Isso tudo dá ao universo o aspecto de uma tensão contínua e, ao mesmo tempo, de uma dinâmica incontrolável.”

O ponto alto do estudo é a presença dos clientes estrangeiros no local. Sobre eles, Eliane descreve um episódio que assistiu e que representa bem o comportamento agressivo dos donos de casas de prostituição para com ‘os de fora’: “Em uma tarde ajudava na organização de um evento que escolheria a Gatinha Mimosa. Repentinamente chegou Milton, dono de um dos estabelecimentos da vila, que esbravejou na minha frente: 'Tem um gringo que tá tirando fotos das minhas meninas. É a última vez que venho reclamar, se ele aparecer mais uma vez na Vila, ele é um homem morto.'”

O poder da Associação dos Moradores do Condomínio e Amigos da Vila Mimosa (AMOCAVIM), também é realçado na obra. “É a entidade que responde pelos acontecimentos sociais, políticos e legais da Vila Mimosa. O discurso de seus integrantes expressa preocupações no que se refere à qualidade de vida das prostitutas na Vila de forma que elas realizem melhor o exercício da prostituição. A Associação é composta por donas e donos de estabelecimentos de prostituição. Nesse sentido, não é uma associação de prostitutas, é uma “associação empresarial.”

O texto de Eliane Pasini é mais uma fotografia de uma realidade social. O que a autora resgata é um microcosmo de um modelo de prostituição que já enfrentou melhores dias, segregada que era em guetos, a salvo do olhar moralista das famílias. Hoje, os núcleos de prostituição e a presença de clientes estrangeiros se disseminaram na paisagem das grandes cidades brasileiras, em diferentes formatos de prestação do serviço sexual.

Por mais que políticas públicas para a eliminação destes locais sejam sempre consideradas pela autoridade do momento, é preciso compreender que eles são parte de um complexo sistema de interação social. Constituem uma cidade à parte dentro das várias outras cidades que os grandes centros abrigam em sua ampla estrutura e múltiplas facetas.