quarta-feira, 28 de julho de 2010

O refúgio prazeroso do europeu na SBPC

Pablo Capistrano, Stella Galvão e Maria da Paz
Cartilha distribuída pela ASPRORN
Stella Galvão

Uma mesa redonda realizada na manhã do dia 28 de julho, durante o congresso da SBPC, teve o projeto de pesquisa “Natal, refúgio prazeroso do europeu” como tema de debate ocorrido nas dependências da UFRN. Falou-se durante mais de uma hora sobre os desdobramentos do turismo sexual em termos de ligações afetivas e arranjos de vida em comum que surgem na noite de Natal. Participaram Maria da Paz, presidente da ASPRORN (Associação dos e das Profissionais de Sexo do Rio Grande do Norte) e Pablo Capistrano, professor de filosofia do IFRN, a convite da coordenadora da pesquisa, Stella Galvão, professora de Comunicação da Universidade Potiguar.
Debateram o assunto com Francisco de Paula, diretor do curso de Publicidade e Propaganda da UnP e Gustavo Bittencourt, diretor adjunto do curso de Design Gráfico da UnP. Os alunos Elnatana Barreto, de Publicidade, e Tadeu de Oliveira, de Jornalismo, bolsistas da pesquisa, também contribuíram por meio de relatos das garotas que têm entrevistado na vida noturna da cidade.

Na visão de Capistrano, criou-se uma autêntica xenofobia [aversão e medo diante do diferente, do que é desconhecido] da população de classe média da capital potiguar aos redutos de prostituição em Ponta Negra. “Aquilo era um balneário de Natal. Com a chegada dos estrangeiros, começou a aparecer moças de periferia, vendedores, começou a haver uma movimentação comercial que atraía pessoas de diferentes cantos da cidade. E parece haver uma conexão clara entre essa xenofobia e a entrada de pessoas de baixo poder aquisitivo em espaços físicos que antes eram fechados a eles. E aquelas eram as nossas mulheres. E sabíamos onde encontrá-las. Eu ia lá, usava como queria e depois voltava para o meu espaço.”

Além da perda do balneário que até a década de 1980 era pouco habitado e quase inacessível para a população sem carro, o filósofo toca em outro ponto delicado: a necessária convivência dos mais abonados, que freqüentam restaurantes e shoppings, com as acompanhantes dos turistas. “Agora, elas também vão ao badalado restaurante Camarões e topam com as senhoras de Petropólis que ficam chocadas porque só as imaginava entrando ali para limpar o chão. É ter que engolir que aquela garota está comendo o mesmo prato que a dama de classe média alta”. São questões sociais e culturais que contribuem para convulsionar e dificultar o convívio entre estes mundos. Como um apartheid consentido de parte a parte.

Para Maria da Paz, o turista europeu que vem em busca de serviços sexuais é muito bem vindo por três razões principais: porque faz circular mais dinheiro no mercado, porque trata as garotas com mais delicadeza e educação que os brasileiros e ainda se dispõe a bancá-las no longo prazo. Ela contou a história da amiga que se mantém na ponte aérea Brasil-Europa tendo um italiano por provedor e um gigolô natalense por amante. “As mulheres são beneficiadas, sem dúvida alguma, principalmente aquelas que trabalham de forma autônoma, sem se vincular a um cafetão”.

Ela defendeu que o turismo sexual resulte em alguma modalidade de contribuição simbólica, regular, a ser proposta e regulamentada, para se formar um fundo que dê apoio para mulheres em situações frágeis na relação sexual, principalmente crianças e adolescentes ou mulheres não alfabetizadas. De Paula aplaudiu a ideia, mas Castriciano insistiu na regulamentação da profissão de prostituta como meio de assegurar direitos consagrados para outras categorias profissionais. O tema será retomado oportunamente neste espaço.

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