sexta-feira, 9 de abril de 2010

Do livro ‘Eu, mulher da vida’

Tadeu de Oliveira

O cotidiano desumano de São Paulo revela os gritos silenciosos de quem vive à margem da sociedade. Eles não se propagam no ar em sons, mas revela a dor de vidas estraçalhadas pelo tédio em olhares gélidos, rostos inexpressivos e gestos mecânicos na busca pela sobrevivência, como as filas nos pontos de ônibus e a dos desempregados mendigando salários hostis.

É na escuridão das ruas da capital paulista que nasceu uma nova vida. Pelos desenganos de uma vida inteira, pela angústia da existência nas veias, morre Otília, moça de classe média e nasce Gabriela, prostituta por opção.

Este o principal ponto do livro Eu, mulher da vida (Editora Rosa dos Tempos), obra que retrata as experiências de Gabriela Silva Leite no mundo da prostituição. A trajetória de Gabriela, desde suas primeiras experiências sexuais, passando pela sua estadia em pontos famosos de prostituição em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte até a luta política por melhores condições de trabalho para as prostitutas, vem à tona em um texto cujo caráter informal propõe uma conversa da autora com o leitor.

A opção de Gabriela desmistifica vários preconceitos existentes com a profissão. Virar prostituta sempre foi encarado pela sociedade como uma alternativa para suprir exclusivamente necessidades financeiras. Segundo as “masturbações ideológicas” da esquerda, como diz Gabriela no livro, as prostitutas continuam a ser vistas como vítimas do sistema capitalista. Claro que essa condição está presente em muitos relatos de prostituição, mas reduzi-la a uma versão única só retrata a face hipócrita da sociedade com relação à prostituição.

Afirmar que ela pode ser uma escolha incomoda uma sociedade ainda marcada pelo puritanismo e envergonha as prostitutas, determinando um complexo de inferioridade. A prostituta é, portanto, uma mulher como outra qualquer, com sentimentos e desejos. A felicidade tem várias faces - cada um escolhe a sua.

Um comentário:

  1. Ola,
    amei o blog de voces.
    É um assunto bem real em nossos dias...
    Estarei sempre por aqui!

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