terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um novo amor

O Beijo, Gustav Klimt, 1908
Stella Galvão


Sentado à beira de uma banqueta, ele parecia um adolescente sem rumo e sem remo. Marcaram de se encontrar ali por volta do meio dia, sol a pino, horário não exatamente reservado pelos amantes, especialmente em um feriado, quando os pais de família estão ocupados cumprindo o seu papel social.

Ele sabia que ela podia ser a mãe dele. Mais de vinte anos além, mas uma senhora em condições ainda de encarar uma caminhada de horas sem cair pelos cantos. Eles se olharam rapidamente e partiram para o encontro. O que poderia ser algo breve e banal, cedo revestiu-se de alguma solenidade. Ele agia como um noivo arcaico cheio de cuidados com sua donzela às vésperas da entrega.

Encantada com a falta de jeito do rapaz, ela assumiu o comando, engatando uma aula magistral de contato bucal. Ele, atento, logo assimilou as lições, quase desafiando a mestra, que não cabia em si de alegria. Qual professora não desejaria um aluno desses, tão aplicado, e prontamente disposto a colocar em prática o produto do aprendizado?

Almoçaram juntos, um olho no frango à parmegiana, outro em partes atrativas do corpo um do outro. O melhor dos amores novos, ela logo haveria de descobrir, não se encontrava na óbvia disposição física do jovem amante. Era na delicadeza de uma alma rara como aquela que residia o segredo de uma alegria constante. Constante ao longo de uma tarde de puro transporte, de êxtase, de dissipação.

O banho a dois foi um ritual como há muito ela não experimentava. Talvez fosse o primeiro dele, assim tão envolvente. Consistia em substituir o sabonete ou o esponja pela fricção suave, o encontro de uma pele um tanto curtida com dedos ainda por ganhar texturas. Ele a limpou por inteiro, de um modo tão agradavelmente intenso que ela não resistiu a produzir um farto bálsamo para completar a operação de limpeza. Chorou copiosamente, ele enxugando cada lágrima com o beijo recém-descoberto.

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