quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Posse ou pose apenas


Stella Galvão

Ela se chamava Shirley. Ele, Lemmon (limão?).
Viviam às turras - ela era de Vênus, ele de Marte.
Ela gostava de sexo, ele de amor. Tubo bem, com sexo.
Gostavam de tergiversar. Discutir a relação.
Na cama ou fora dela. Preferiam a luz tênue dos faróis de trânsito.
Ele escreveu a ela ou ela a ele, pouco importa:
 
O que você quer, afinal?
Uma sessão carnal, a posse?
Sabe o que desejei desde aquele momento surreal em que te soube ali do meu lado?
Você tem alguma noção do que se passa na alma do outro?
Pode imaginar que algumas sensações possam se delinear sem a antropofagia?
Por que é tão bom se estou tão enleada numa história outra?

A que você se destina?
Ser um outro a quem posso cobiçar desinteressadamente?
Você nada sabe de mim. Imagina só algumas brevidades.
Sabe que brevidade é nome de doce, e eu só posso ser eventualmente amarga(o).
Eu nem mesmo tenho minha cota de atração física inquestionável.

Você pode entender que não me interesso só por quem me queira para desfrute?
O desfrute está à espreita em todas as esquinas e em todos os vãos.
Então por que eu? Por que me desafiar com essas armas banais da sedução?
É tão difícil perceber que eu me nutro do que não alegra a turba?
É possível a você se oferecer em sacrifício? A sua discrição comporta essa história?

Não quero por a perder o que já conquistei.
Nessa altura as armas estão depostas e o tempo passa. 
Só diga a que veio. Quero saber se posso te provocar ao extremo e obter sua cumplicidade.
Quero saber se você veio a passeio ou não. E que tipo de alegria eu causo a você.

Para além de uma alegria e usufruto fugazes. Eu não sou feito(a) de matéria efêmera, mocinha.
Eu me chamo fulano e sou uma sicrana que difere de tudo que já cruzou seu caminho.

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