sábado, 13 de novembro de 2010

Confissões de uma garota de programa

Stella Galvão

Chelsea é linda com seus expressivos olhos negros, cabelo impecavelmente longo, corpo com tudo no lugar. Ela é vivida pela atriz pornô Sasha Grey, estrela da última produção do diretor norte-americano Steven Soderbergh (Traffic, Doze homens e outro segredo, Treze homens e um novo segredo). O título original do filme é The Girlfriend Experience (EUA, 2009), expressão equivalente a uma ‘namorada de aluguel’ que não se limita ao sexo protocolar, mas inclui também conversa e alguma camaradagem durante os encontros.

"Confissões de uma Garota de Programa" se passa durante cinco dias na vida de Chelsea, mas não há sexo explícito no filme. Os clientes dão conselhos sobre marketing e investimentos, querem que ela lhes conte detalhes sobre a vida particular, se queixam da família e pedem colo e atenção. Fala-se até mesmo nas preferências pelos candidatos à eleição presidencial de 2008 (Barack Obama e John McCain) nos EUA, o que soa meio bizarro durante os encontros.

Chelsea tem um namorado bonitão, instrutor de academia, hiperdedicado e compreensivo. Bem cinematográfico: Moram juntos e assistem TV enroscados. Ele não se importa com os programas dela, entende a vida da namorada e só ameaça mesmo pular fora quando ela anuncia que passará o final de semana com um cliente, quebrando uma regra pré-definida entre o casal. Fora isso, não há nenhum grande segredo, ação, conflitos, frustração. Sabe-se que ela é aficcionada por literatura astrológica, e só.

Todos parecem envoltos em uma bolha invisível, preocupados demais com a situação econômica e política do país. Mesmo quando a protagonista se decepciona com um blogueiro que troca um encontro íntimo por comentários na net que se revelam altamente decepcionantes para o negócio da garota, a repercussão limita-se aos olhos marejados dela numa conversa com mais um cliente compreensivo. Bom demais para ser verdade.

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