sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Fantasias de Antonio

Stella Galvão

Antonio era um homem recém-entrado naquele terreno pantanoso da meia-idade, ainda alheio e um tanto aflito com o que estava por vir, especialmente no quesito virilidade. Tremia diante da simples possibilidade de não fazer jus àquilo que uma mulher, ou a maioria delas, espera de um varão em horas íntimas. Não que já tivesse contabilizado falhas. Mas tinha uma história de um primo obrigado a usar uma espécie de recauchutador para pneus, sem sucesso. Ou do avô que entrou em depressão profunda após fazer ouvidos moucos aolhar interessado de uma matrona.

Solteiro novamente, ocorreu dele topar com meia dúzia de amazonas de espírito aguerrido e humor volátil. Ele foi como que cooptado, sugado, incorporado ao grupo. Não se tratava apenas de um concentrado de estrógenos em corpos femininos. Era uma auto-intitulada reunião de órfãs transitórias de testosterona. Exposto à sanha daquele mulherio ávido por contatos com o sexo oposto, Antonio foi tomado de súbita perplexidade.

Único varão num grupo tão vasto, atraente e sequioso, o moço titubeava, atravessava os períodos, cortava a fundo as orações, atropelava os parágrafos. As moçoilas não lhe davam trégua, com olhos flamejantes voltados na direção daquele que havia irrompido. Ele já se sentia como um cordeirinho prestes a ser imolado, ou a picanha prestes a girar na churrasqueira lotada de carvão em brasa pura. Calhou de ser ele, Antonio, o prato do dia.

O copo que recebia os lábios finos do moço era mordiscado com sofreguidão, o simples caminhar por entre as mesas sugeria uma intimidade crescente em um singelo roçar de dedos, suas poucas palavras, por vezes balbuciadas, eram rapidamente digeridas. A idéia de ser dilacerado por tantas seguidoras da deusa Diana não chegava a flagelar Antonio, mas ele vacilou diante de tanta facilidade, a porta aberta para a escolha – na verdade só faltava ter início o banquete tendo ele por iguaria.
Uma das moças desejosas do contato com as partes masculinas tomou a iniciativa de pescar o indefeso rapaz naquele mar de estrógenos. Lá se foram, a pretexto dela tomar o bonde que não tardaria a passar. Saíram em trote harmônico, avançando na vastidão da noite. Eram apenas dois seres numa madrugada que parecia se fazer fria.

Um comentário:

  1. Cadê a continuação? rsrs Adorei o blog, cheguei aqui por indicação do meu querido amigo (sem puxa saquismo) Tadeu. Tenho bons textos inseridos no meu blog. Se desejarem conhecer... O link "mais quente" é: http://krolrice.blogspot.com/search/label/Estranha%20Paix%C3%A3o%20Comum Estou seguindo e "de olho" em Vcs!

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