quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O poder do dinheiro na relação homem X mulher

Elnatana Barreto

O livro “O sexo oculto do dinheiro”, de Clara Coria, aborda uma temática que permanece um tabu em várias sociedades. Explica a relação existente entre homens e mulheres tendo o dinheiro como mediador privilegiado. Para exemplificar a dependência feminina sob o masculino, e o poder do homem, municiado com o dinheiro, sobre a mulher, a autora destaca a prostituição feminina.

A prostituição favorece uma situação de co-dependência, onde a mulher precisa do dinheiro do qual o homem é detentor e este, por sua vez, necessita dos “serviços prazerosos” ofertados pelas mulheres. Assim ao, relacionarem-se, ambos realizam suas vontades e satisfazem seus desejos, ainda que não sejam necessariamente convergentes.

Por outro lado, Clara Coria demonstra que a situação de co-dependência não aparece apenas em uma relação de prostituição (onde o homem e a mulher não se conhecem e encontram-se apenas com o único objetivo de trocar favores), mas também em relacionamentos familiares. Apresenta a mulher casada em uma situação semelhante, quando não tem renda própria e necessita do homem na condição de provedor, oferecendo-lhe, em troca, favores não apenas sexuais, como também agregando funções de dona-de-casa para satisfazê-lo.

Ao tentar sair da dependência masculina em casa, a mulher tende a estabelecer uma situação de submissão a outro homem, dependendo da mesma forma do dinheiro que ao longo da história concentrou-se em mãos masculinas. Assim, poderá permanecer em segundo lugar quanto a dispor de dinheiro que lhe assegure a dose fundamental de autonomia, um exercício árduo e que requer grande dose de determinação.

Desta maneira, um número expressivo de mulheres se coloca dependente do dinheiro masculino, ampliando, em conseqüência, a concentração de poder sobre um homem que se julga detentor de direitos propiciados por sua condição de provedor, em relações estabelecidas com base nesta distribuição desigual de forças. Esta é a realidade que a autora disseca nos vários capítulos do livro e que impregna muitas sociedades e, nestas, vários grupos sociais.

Para sair desta realidade, as mulheres historicamente vêm se qualificando e buscando novos caminhos. Saindo do conforto de suas casas e abdicando do rótulo único de dona-de-casa, buscando cada vez a profissionalização e a autonomia financeira. Em depoimentos prestados à autora, as mulheres afirmam trabalhar não somente para conseguir o dinheiro, mas a independência e a percepção de ser útil para a sociedade, “o prazer que lhe dá trabalhar e produzir algo”.

Em alguns países, este movimento em direção a uma vida produtiva ainda enfrenta dificuldades, com muitas mulheres se envergonhando dessa opção, como descreve Clara. “São quase intermináveis os relatos se prestarmos atenção aquilo que geralmente não se ouve: o discurso das mulheres. Discurso preconceituosamente convertido em tagarelice, descartado ou ignorado tanto pelos homens quanto pelas mulheres. Geralmente, as palavras na boca das mulheres são consideradas simples ruidos ou uma transmissão insignificante. O preconceito machista generalizado, inserido na linguagem e utilizado para legitimar e perpetuar a discriminação, faz-se presente em toda sua plenitude quando 'todo mundo' considera 'óbvio', por exemplo, que 'palavra de homem é lei.'”

Ainda que pareça anacrônico ou fora de época, muitas mulheres continuam a sofrer preconceito e a enfrentar dificuldades para ingressar na sociedade de consumo como prestadoras de serviços qualificados. A autora discorre também sobre outros benefícios da independência econômica das mulheres, além de escapar da tutela direta de um homem (próximo tema a ser abordado). E a maneira como o dinheiro apresenta-se e influi na relação conjugal, entre outros tópicos relevantes sobre a questão dinheiro e relacionamentos entre (des)iguais.

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