domingo, 8 de agosto de 2010

Entre o academicismo e a masturbação teórica

'O grande masturbador', de Salvador Dalí

Tadeu Oliveira

Eis mais um “artigo torto” sobre outros artigos do meio acadêmico mundo afora,com enfoque nas questões em torno da sexualidade. Antes que as palavras vagueiem moribundas de nexo nesta pseudo-introdução bem articulada, vamos logo ao que realmente interessa.

O artigo Amor, Sexo e Dinheiro: uma interpretação sociológica do mercado de serviços sexuais, de Edmilson Lopes Júnior, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, apresenta algumas faces do mercado dos serviços sexuais em nosso objeto de estudo, o enigmático refúgio prazeroso do europeu.?

O texto foi escrito em abril de 2005, e nele o autor procura, sob a ótica da sociologia, elucidar o que acontece nesse mercado, usando de artifícios comuns a todos os pseudo-intelectuais metidos a “figurões” do meio acadêmico natalense. Deles, sabe-se que é comum o uso de vocabulário rebuscado em alguns trechos de seus textos, em suas falas como um todo, artifício muito comum para suprir a deficiência de ideias de força. Lopes Júnior segue esta cartilha à risca.

Mesmo assim, ele usa bases teóricas de luxo para dar suporte a sua obra. Em uma parte do texto, uma citação de Pierre Bordieu retirada de seu livro A dominação masculina, sobre o mercado de serviços sexuais, se faz presente:
 “[...] o comércio do sexo continua a ser estigmatizado’ (p.26), é porque a “[...] vagina continua sendo constituída como fetiche e tratada como sagrada”. Esse fato contribuiria para que, tanto na “[...] consciência comum quanto no direito”, se excluísse, a priori, a possibilidade “[...] de que as mulheres possam escolher dedicar-se como a um trabalho”. (BORDIEU, 1998 p.26)

A visão do autor sobre o tratamento dado por grande parte da sociedade aos profissionais do sexo é um ponto interessante do artigo. Lopes Júnior procura desvendar as intenções deste tratamento e colocar as trabalhadoras do sexo como seres pensantes, donas de sua própria vida:

“É o que acontece quando moças, identificadas como ‘garotas de programa’, são apreendidas, como é comum ser feito pelas ‘forças do bem’ em muitas capitais nordestinas, como ‘vítimas’. Elas teriam sido ‘empurradas’ para a prostituição pela ação insidiosa de poderosas redes de tráfico e aliciamento de mulheres. Esse tipo de construção discursiva também violenta as trabalhadoras do sexo. E, apesar de suas boas intenções, reforça o estigma. Isso porque, ao reduzi-las à condição de vítimas, contribui para destituí-las da condição de ‘agentes cognoscitivos’ (Giddens, 2003), em competências para ler o seu mundo e justificar as suas ações.”

O projeto de lei nº 98, de autoria do senhor Fernando Gabeira, que pretende legalizar a prostituição no país, levado à votação na Câmara dos Deputados no ano de 2003 (engavetado até os dias atuais), juntamente com as convulsões sociais e morais que ele provoca na ala mais conservadora de nossa sociedade, também mereceram destaque do autor:
  “O incômodo causado pelo projeto de Gabeira está, não no controle, mas no fato de que, estabelecendo marcos regulatórios para o mercado de serviços sexuais, tira das sombras da ilegalidade uma atividade profissional que, à luz, questiona fortemente as fronteiras entre amor e dinheiro, entre sagrado e profano.”

É impossível não admitir a boa intenção de Lopes Júnior em seu artigo. A visão das Ciências Sociais sobre um mercado que está impregnado na cidade do Natal, se faz mais do que necessária. Quanto mais tivermos colaboradores de todas as áreas do conhecimento dispostos a auxiliar nesta tarefa, mais entenderemos esse mercado.

Mas os vícios de um meio acadêmico recheado de ideias inúteis, de doutores e professores iconoclastas de primeira ordem, inundados por suas próprias vaidades, contaminou este texto que poderia ser uma obra de grande importância para a sociedade.

Sintetizando, este artigo de Edmilson Lopes Júnior nada mais é do que mais uma tentativa do meio acadêmico de desvendar o que acontece no mundo, observando tudo à distância, sem a voz de quem mais interessa esse tipo de assunto, neste caso, os profissionais do sexo. Mais uma “masturbação ideológica” inútil.

Um comentário:

  1. Realmente, os pseudo-intelectuais de nossa sociedade infelizmente desperdiçam as poucas ideias boas que eles têm. Fazer um trabalho a respeito da prostituição apenas baseado em livros e teóricos é completamente insano.
    Muito bom o texto Tadeu.

    Parabéns.

    Pedro Paulo

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